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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

HISTÓRICO SOBRE A CULTURA DO CURAUÁ


Curauá é o nome popular de uma planta rústica da região Amazônica, cujas folhas produzem uma fibra têxtil de natureza lignocelulósica. Trata-se de uma bromeliácea[1], do tipo ananás, especificamente ananás erectipholius, cujo habitat nativo é a Amazônia, com ocorrência mais significativa no Pará, em Santarém, na comunidade do Lago Grande do Curuai. Existem duas variedades distintas do curauá (branca e roxa), cuja altura média pode atinge 1,5 m de altura e produz um fruto pouco suculento, mas comestível pelas pessoas.
 Planta de cultura pré-colombiana, cultivada por pequenos produtores e utilizada na fabricação de cordas, sacos, redes, artesanato e outros utensílios de utilização indígena.
 O plantio do curauá, consorciado com cultura perene de valor comercial, representa alternativa econômica aos pequenos agricultores da região, por tratar-se de cultura rústica e adaptada a solos de baixa fertilidade, facilitando o aproveitamento de áreas alteradas encontradas em larga escala nas pequenas propriedades rurais.
 Atualmente, o Estado do Pará é o único que possui plantios de curauá. Toda a produção já está comprometida em contrato com a indústria automobilística brasileira. "O Pará está produzindo 20 toneladas de fibra por mês, enquanto a necessidade da indústria automobilística e têxtil gira em torno de 1.000 toneladas de fibra por mês.
 Um dos grandes entraves para o aumento da área de cultivo está sendo a falta de mudas no mercado. No Pará existem laboratórios construídos para produzirem mudas de curauá, mesmo assim, não conseguiram atender o mercado. Em uma planta nativa adulta é possível obter-se até seis rebentos ou perfilhos (mudas) ha/ano. No laboratório podem ser produzidas de 8 a 10 mil mudas/ano.
 Segundo pesquisador da EMBRAPA Osmar Lameira (2005), o mercado industrial necessita de 125 milhões de mudas para uma área de cultivo de 5.000 hectares. "O ideal seria que além do plantio também hajam mais laboratórios para acelerar a produção de mudas. A dificuldade para os agricultores é o financiamento”.
 O tecido produzido pela fibra do curauá é antialérgico[2] nesse sentido aumentou o interesse da indústria têxtil. A universidade Federal do Pará vem desenvolvendo pesquisas para a produção de uma pomada antimicrobiana[3]. Além disso, a fibra pode ser usada também pela indústria de celulose, calçadista, de informática, na fabricação de papel artesanal e na fabricação de fios para a indústria joalheira. Além de que, o soro pode ser aproveitado em adubos orgânicos e pela indústria farmacêutica e a mucilagem[4] na fabricação de papel artesanal e industrial e adubo orgânico.
Em 1890, segundo Dr. Erich Imbiriba, levada à Exposição Agro-Industrial de Paris, a fibra do curauá, foi premiada por técnicos franceses que a consideraram o melhor sucedâneo[5] do nobre linho, se tratado com determinados produtos químicos (desgomagem de hoje). Estas boas referências levaram um suíço, Godofredo Hagmamn, empresário rural em Santarém a plantar 500 mil pés de curauá e solicitar 1.000 contos de réis, para construir, em Santarém, a segunda tecelagem do Brasil, abastecida com curauá.
 Em 1929 o cientista paraense Enéas Pinheiro, em visita ao plantio deu parecer favorável ao empréstimo, mas nada evitou o desinteresse oficial, pelo assunto. Nos anos 60, o Banco da Amazônia (Basa), numa ação desenvolvimentista, testou as ricas potencialidades do curauá, o que levou a financiar uma monografia sobre a planta, a compra de máquinas descortiçadoras  de sisal( fibra mais fraca, mas folhas semelhantes ao curauá) empréstimos para a expansão do curauá, cuja produção era insignificante e necessitando de imediato e sério programa para crescer, para atendimento de grande interesse surgido por essa fibra.
Em 1985, o pesquisador Benatti Júniot, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), veio a Santarém, tentar descortiçar[6] juta/malva, com descortiçador de linho rami. Realizou o teste com juta/malva, mas se interessou vivamente pelo curauá. Levou as fibras para Campinas, manifestando-se convencido de que o curauá, submetido a uma boa desgomagem, produziria um linho-rami.
 Em 1993, Benatti Jr., acompanhado de dois industriais operadores de desgomagem de fibra de rami, vieram integrar a equipe de vinte técnicos que elaboraram o Programa de Tecnologias de Produção e Beneficiamento de Fibras Naturais, onde mais uma vez mostrou interesse em incluir o curauá, no programa.
 O curauá, fibra nativa da Amazônia, começou a ser utilizada na região do Lago Grande do Curuai em Santarém-Pa ainda pelos índios "Curuais", depois por vaqueiros e fazendeiros na confecção de cordas, arreios e outros utensílios de manuseio de gado. A fibra do curauá passou a despertar o interesse de pesquisadores e chegou à indústria automobilística a partir de 1993, quando foi apresentado em Belém pelo engenheiro florestal da Emater Cristovam Sena durante Simpósio Internacional patrocinado pela UFPA, Poema e DIMLER Benz. A partir desse momento se intensificaram os estudos e as descobertas de novas aplicações da fibra, mas a sua produção não acompanhou a evolução da pesquisa.
 Nesse momento, também já havia o interesse da empresa automobilística Mercedes-benz do Brasil pela fibra, para fabricação de estofamento de seus veículos. Esta montadora Mercedes-benz do Brasil firmou parceria com um grupo de pesquisadores que estuda o curauá, no sentido de racionalizar e expandir a sua produção. Em 1996, três indústrias paulistas, produtores de compósitos[7], visitaram a zona produtora de curauá e demonstraram alto interesse, chegando propor a construção de uma usina de semi-elaboração[8] da fibra, transformando a em “mantas”, matéria-prima do compósito.  A usina seria em Santarém, agregando mais valores no preço aos produtores.
Em outubro de 2001 a plantação de curauá ocupava uma área aproximada de 400 hectares, na região do Lago Grande. O cultivo da fibra foi incentivado no inicio da década de 90 e intensificado a partir dos anos de 1996 e 1997. As técnicas de plantio e processamento ainda eram feitos de maneira rudimentar; o que fatalmente comprometia a oferta do produto em larga escala. Nesse período, segundo José Colares, técnico da Secretaria Especial de Produção, existiam várias empresas interessadas em fazer o processamento industrial da fibra, mas o problema era que não havia produção suficiente. (Gazeta de Santarém, 2001)
 O desenvolvimento engloba os fatores, crescimento econômico, queda do desemprego, da desigualdade social e da pobreza e, melhoria das condições de saúde, nutrição, educação, moradia e transportes à população envolvida. Fatores estes que se refletem em transformações sociais, econômicas, políticas e institucionais, sem as quais é impossível conseguir “crescer” ou “desenvolver” determinada região.
 Buscando um embasamento teórico, vimos que segundo Sandroni (1999:p.18) Desenvolvimento Econômico :

 [...] crescimento econômico (aumento do produto nacional per capita) acompanhado pela melhoria do padrão de vida da população e por alterações fundamentais na estrutura de sua economia.

Não existe uma definição globalmente aceita de desenvolvimento.  Para alguns economistas, de inspiração mais teórica, consideram o crescimento como sinônimo de desenvolvimento. Já outros economistas, voltados para a realidade empírica, consideram que o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente. Esses economistas são respectivamente, Neoclássicos e de inspiração Keynesiana.
Pode-se considerar que o desenvolvimento econômico é um conjunto de transformações intimamente associadas, que se produzem na estrutura de uma economia, e que são necessárias à continuidade de seu crescimento. Essas mudanças concernem a composição da demanda, da produção e dos empregos, assim como o estrangeiro. Consideradas em conjunto, essas mudanças estruturais definem a passagem de um sistema econômico tradicional a um sistema econômico moderno (chenery,1981,p.IX).

Desenvolvimento econômico defini-se, portanto , pela existência  de crescimento econômico  contínuo, em ritmo superior ao crescimento  demográfico,  envolvendo mudanças de estruturas e melhoria de indicadores econômicos  e  sociais.
 Esses fatores são primordiais para o processo de desenvolvimento de uma sociedade, e se fazem necessárias alternativas criativas para que se possam solucionar ou amenizar a situação de desemprego, baixa renda, êxodo rural e outros. Santarém, assim como toda a Região do Tapajós, encontra-se em uma fase de desenvolvimento econômico, fator que gera uma expectativa de crescimento regional significativo, com a implantação de indústrias e o incentivo à agroindústria. A ocorrência destes elementos em cadeia beneficiaria a região com o aumento do nível de emprego, da renda e do consumo de bens e serviços.
 Em 22 de setembro de 2002, o governador Almir Gabriel assinou um termo de compromisso para a criação da Agroindústria da fibra do curauá, no município de Santarém. O termo garantia a isenção fiscal para a Pematec, uma empresa de São Paulo, para que se implantasse a cadeia agroindustrial do curauá na região Oeste paraense. A fibra seria transformada em peças de acabamento e revestimentos internos de veículos automotores fabricados no Brasil.
 A empresa Pematec preparou nessa região Oeste paraense uma área de aproximadamente 300 hectares para o plantio, gerando 250 empregos diretos para famílias de pequenos produtores rurais.


[1] Bromeliácea – São ervas silvestres com caule geralmente reduzido e raízes mal desenvolvidas. As folhas são compridas e estreitas ou largas

[2] Antialérgico – Que não da alergia.
[3] Pomada antimicrobiana - Remédio ou substância que destrói os micróbios ou impede o seu desenvolvimento.
[4] Mucilagem – Designação comum a compostos viscosos produzidos por plantas.
[5] Sucedâneo – Medicamento ou qualquer coisa capaz de substituir outra.
[6] Descortiçar – Tirar a descortiça.
[7] Compósito – Composto de elementos diferentes.
[8]  Semi-elaboração – Produto ainda inacabado.

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